BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

domingo, 17 de junho de 2012



Comida, como quase tudo nesta vida, é moda. Pratos entram em evidência e desaparecem num piscar de olhos. Entre os itens de meu cardápio favorito estão o bife à milanesa, o arroz de forno, o rigatoni.

Não são sabores em voga. Mas faziam parte dos dotes culinários da minha mãe, muitas décadas atrás.

Hoje, o mais respeitado chef não seria capaz de atingir o sabor daquela comida. É um sabor muito particular, o sabor da minha infância.

Ando pensando nisso desde que li no jornal a notícia do fechamento da lanchonete Chaika. Eu não sabia, mas a Chaika que eu conheci, a primeira de todas, a de Ipanema, estava fechada já há algum tempo. Não conseguiu sobreviver a um incêndio que a atingiu há oito meses. Lembro-me vagamente deste incêndio. Ou então estou confundindo com o fogo que pegou em outros restaurantes do meu passado, como a Pizzaria Guanabara e a Churrascaria Majórica (será que eles ainda estão lá?). O que marca o fim definitivo da Chaika é o fechamento da filial do Rio Sul. Então havia uma Chaika no Rio Sul?

A Chaika, aqui no Rio, é... tá bom, foi, certamente, a maior fornecedora de sabores da infância. Suas tortas, seus doces, seus sorvetes com doses cavalares de açúcar e arquiteturas surpreendentes marcaram, pelo menos, cinco gerações. Não fui criança da Chaika. A lanchonete de Ipanema está agarrada às minhas lembranças de outro tipo de comida, aquela associada a cinemas ou teatros.

Tento explicar: o Bob’s da Domingos Ferreira, por exemplo, estará sempre ligado a matinês do cine Rian, na Avenida Atlântica. Sanduíche de queijo com banana era o alimento certo para depois de uma comédia com Doris Day e Rock Hudson. A Trattoria, a primeira de todas, a da Rua Bolívar, era o programa para depois do filme no Roxy. O inesquecível cheesbacon do Chaplin, degustado na calçada, sempre vinha após uma peça no Teatro Santa Rosa. A Chaika era garantia de estômago forrado antes de um besteirol no Teatro Candido Mendes ou um porto seguro após um filme da Metro no Cine Pax.

São sabores da adolescência, do começo da juventude, mas, de alguma forma, o gosto da Chaika recuperava uma ou outra lembrança gastronômica da infância. Era ali que eu ainda encontrava a pizza brotinho. Era ali que eu pedia sem temor um waffle com mel. Era ali, enfim, que eu me deliciava com uma
torta recheada de baba de moça (baba de moça era a sobremesa mais caprichada da culinária de minha mãe).

O fechamento da Chaika me leva à água de coco do Pot, quando meus pais topavam ir à longínqua São Conrado. À casquinha de siri do Sereia do Leme, onde se batia o ponto obrigatoriamente após as sessões de domingo do cineclube. Ao sorvete de fruta do conde do Lopes, que completava a matinê no Cine Caruso. Ao sanduíche de sorvete do Ricky’s, programa que fazia valer a pena ir ao Leblon. Minha cidade tem sabores que cada vez mais só existem nas lembranças.

Fonte: Xexeo - Coluna da Revista O Globo 

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