BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

terça-feira, 3 de julho de 2012

Cabo Frio: Artes Plásticas perde um Grande Nome



 Neste último domingo faleceu em Cabo Frio o grande nome das artes plásticas "CARLINHOS MENDONÇA".

Na foto: Marta Sirimarco, José Antônio Mendes, "IN MEMORIAM DOLORES TAVARES", esposa de Carlinhos Mendonça e "IN MEMORIAM CARLINHOS MENDONÇA".

Carlos Augusto de Mendonça, ou apenas Carlinhos Mendonça, como é conhecido em Cabo Frio, nasceu em Teresópolis, em 1930. Desde menino começou na lida e, um pouco mais moço, foi trabalhar como estafeta dos Correios em Niterói. Nesta mesma época, já inicia sua viagem pelo mundo dos pincéis, telas, cores e palhetas, e começa a freqüentar aulas de desenho tradicional em gêneros como natureza morta e modelo vivo na escola de artes plásticas de Niterói. O aluno apreciava mais os ensinamentos extra-classe, nas tardes de domingo, e pintores da escola naturalista, como Aluizio Valle, Jair Pires, Willi Stewer, que pintavam na rua.
Após dois anos desiste do estudo acadêmico e opta em pintar ao ar livre com os amigos.

Sua história é muito curiosa. Em 1953, cansado da vida em Niterói, Carlinhos pegou um trem e veio pra Cabo Frio para trabalhar como leitor de Código Morse. Neste mesmo trem, viajava também um monge da Ordem Franciscana, com o qual logo fez amizade. O monge ofereceu a Carlinhos um espaço na torre sineira do antigo Convento Nossa Senhora dos Anjos para que ele instalasse seu ateliê e produzisse ali a sua arte. Carlinhos permaneceu no local por dez anos, amadureceu sua técnica e floresceu, pintou proficuamente as paisagens cabofrienses, sua gente e pessoas da elite local. Do período, destacam-se os maravilhosos autorretratos e as belíssimas marinhas.

Carlinhos viveu em Cabo Frio uma época de efervescência cultural. Em sua roda de amigos estavam Carlos Scliar, Djanira, José de Dome, Jean Guilhaume e Carlos Bracher, entre outros. Todo esse movimento cultural dos anos 60 em diante influenciou o pintor, um homem livre que nunca teve medo de correr riscos, flanando por ruas e bares, um observador atento onde tudo lhe interessa.

- Sabe como eu aprendi a pintar? Com as pessoas mais malucas (risos). Eu pintava o que me dava na telha, ia até elas para mostrar o trabalho e, se elas dissessem que estava bom, eu voltava pra casa e fazia tudo novamente. Estranhava que estivesse tudo bom. Alguma coisa tinha que estar errada – conta, bem humorado.

Inicia então, um jeito próprio de pintar, utilizando a técnica realista, uma característica mais pessoal, onde parece que o artista vê, sente, entende e recria a natureza ao seu bel prazer.

Começou a expor em 1956 no Salão Fluminense de Belas Artes, sendo premiado com a menção honrosa.

Participou de varias exposições em Niterói, Rio e São Paulo, destacando-se:

1961- Galeria Escola em Niterói (extinta)
1964- Salão Nacional de Belas Artes, Ministério da Educação e Cultura. Premiado com medalhas de bronze
1965 - LXX Salão Nacional de Belas Artes
1966 - LXXI Salão Nacional de Belas Artes
1970 - Biblioteca Municipal de Cabo Frio
1971 - Pavilhão de turismo em Cabo Frio
1974 - Galeria de Arte Icaraí –Niterói
1975 - Le Chat Galerie- Niterói
1977 - Iate Clube do Rio de Janeiro
1979 - Centro Cultura Paschoal Carlos Magno – Niterói
1980 - Coletiva no 1º Salão de Aeronáutica- RJ
1981- Galeria de Arte Delfin—RJ
1993 - Daltro Galeria de Arte – Niterói

Em 1964 é premiado com medalha de bronze no afamado Salão de Belas Artes com um autorretrato. No entanto, não desfruta do prêmio, uma viagem ao exterior. A recém instaurada ditadura militar suspendeu a premiação.

Carregando na bagagem paisagens, marinhas cheias de luz, autorretratos, retratos que marcam olhares, o feminino e as formas minimalistas do abstrato, Carlos Mendonça segue inventando mais uma nova forma de expressar.

Casado com Vilma e pai de dois filhos homens e avô de uma netinha, hoje, aos 80 anos, diz que cansou de pintar paisagem. Prefere as linhas primordiais dos elementos construtores da forma. O abuso é na cor, presente, densa, irradiante e soberana. O concreto é repaginado pelo pintor aquecido, humanizado pelos olhos que enxergam além do físico e do concreto.

Agora, brinca com o expectador na nova fase abstrata. Recentemente pintou a série urbana Tapumes, que numa pequena fresta deixava transparecer trechos de uma longínqua paisagem, e com picardia comenta: “para quem gosta, basta procurar”.

E é com muito prazer que a Secretaria de Cultura de Cabo Frio promove, a partir do dia 22 de outubro, às 20:30h, no Museu José de Dome – Charitas, a exposição “Aprendendo a pintar”, que mostra a fase mais abstrata e mais intimista do artista. A exposição permanecerá até o dia 31 de dezembro, de terça a sexta-feira, das 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 14h às 20h. O Charitas está localizado à Av. Assunção, 855, Centro, Cabo Frio.

José Antônio Mendes

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