BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Falando de olímpiada de Londres...

A despedida de uma deusa




Vi-a, pela primeira vez, pela TV,  em Atenas. E, confesso, naqueles Jogos, comecei até torcendo contra ela. Afinal, sua maior concorrente era uma brasileirinha que vinha encantando o mundo, chamada Daiane dos Santos. Não deu nem pra saída. Nossa ginasta pisou fora do tablado e acabou alijada da disputa e do pódio.

Fui obrigado, então, a render-me ao inegável talento e à encantadora beleza de uma jovem romena de apenas 17 anos. Seu nome, Catalina Ponor.

Seu feito, naqueles Jogos, igualar a mítica compatriota Nadia Comaneci, conquistando três ouros de uma só vez: no solo, na trave e por equipes.

Com graça e charme estonteantes, Ponor se tornou, imediatamente, a grande musa daquelas Olimpíadas.

E, encantado, aproveitando-me do fato de estar sempre ligado ao jornalismo esportivo, passei a acompanhar sua trajetória, ainda que à distância.

Se o ano de 2004 foi o de sua consagração, o seguinte marcou o início de sua decadência. Enfrentando problemas de contusão e envolvida em polêmicas de comportamento (certa feita, numa competição no exterior, foi apanhada pela severa chefia da delegação romena voltando fora do horário e embriagada, com duas companheiras), Catalina ainda conseguiu bons resultados em 2005.

Mas, em 2006, insatisfeita com a troca dos treinadores principais da ginástica romena, Octavian Belu e Mariana Bitano, por Nicolae Forminte, anunciou a aposentadoria, logo após disputar o Campeonato Europeu.

Daí em diante, as notícias que circulavam sobre ela estavam mais ligadas ao high society do que ao esporte. Especulou-se que se casaria com um milionário italiano. Chegou-se a dizer que seria contratada por uma fortuna para se tornar estrela do Cirque du Soleil, algo que ela até admitiu, mas nunca se concretizou.

Nas Olimpíadas de Pequim, senti sua falta. Um ano antes, ela chegara a ensaiar uma volta, em 2007 (participando, sem brilho, do Mundial de Stuttgart), mas uma doença misteriosa (falou-se em escarlatina) a levou a desistir.

Eis que, então, em Londres, a reencontro, já veterana, com 24 anos. Os traços não são mais tão suaves como os da menina, mas a classe permanece intacta. Seria Catalina Ponor capaz de retornar a seus dias de glória?

Torci por isso. Não pude acompanhar a competição por equipes, mas vi que a Romênia conquistou o bronze. Certamente, com boa participação da antiga musa, classificada também — logo descobri — para as finais do solo e da trave, suas especialidades.

E foi com emoção que, admito, acompanhei, no último dia 7, suas performances na luta individual por medalhas. O início foi na trave, onde dois desequilíbrios evidenciaram que a idade, o peso e o longo período afastada das competições cobravam seu preço.

Segunda a se apresentar, recebeu a pontuação de 15.066, não conseguindo alcançar os 15.500 da chinesinha Lu Sui, quatro anos mais nova, que a precedera. Em resumo, já largou fora da briga pelo ouro.

Pior, outra ginasta da China, Linlin Deng, subiu na trave a seguir e superou as duas, com uma exibição quase perfeita: somou 15.600.

Três ginastas já tinham, então, competido e Ponor era a última. Que tristeza. As quatro seguintes, entretanto, ficaram abaixo do seu score. Entre elas, a campeã geral (“all around”) da ginástica em Londres, a negra americana Gabrielle Douglas, que, entretanto, caiu da trave.

Diante disso, quando a última participante da final, outra americana, Alexandra Raisman, subiu no aparelho, admito, torci contra, só para ver a veterana romena ficar com o bronze.

Num primeiro momento, minha torcida (e a da própria Ponor) deu resultado. Alexandra, que também teve dois desequilíbrios, recebeu nota inferior, e a medalha da romena parecia garantida.

Mas o treinador dos EUA protestou imediatamente, houve demorada revisão da nota e ela acabou igualando a pontuação de Ponor e vencendo no critério de desempate. Lá se foi o bronze da minha musa...

Restava o solo. E eis que a mesma Alexandra que roubara a medalha de bronze de Catalina, na trave, se apresenta antes dela, no tablado, e recebe 15.600 pontos, com uma atuação que beirou a perfeição e entusiasmou a plateia.

Azar, o que me interessa é que lá vem Catalina Ponor, a seguir, no seu último solo, sua última grande aparição em Olimpíadas.

Trajando collant negro, com transparências no colo e nos braços, brilhos por todo o corpo, cabelo repuxado pra trás e maquiagem pesada, a menina de Atenas se apresenta em Londres como mulher fatal.

A graciosidade, a elegância e o charme, porém, estão lá. Seus movimentos são ao mesmo tempo sensuais e liricamente plásticos.

Ao som de uma música forte, desliza pelo tablado, alternando a leveza de uma bailarina e o vigor de uma ginasta excepcional.

Executa saltos mortais, braços e pernas em perfeita harmonia, numa série de piruetas de tirar o fôlego. Um minuto e meio da mais pura poesia em frenético movimento.

A nota? 15.200, insuficiente para o ouro, mas com bastante folga para a prata.

Uma despedida digna de uma grande campeã. O último, espetacular e inesquecível solo de uma deusa.

Ah, Catalina, minha musa olímpica, já estou morrendo de saudades...

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