BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

(Fim)nalidade do Mundo

Por Alex Azevedo

 

Já há algum tempo, um calendário pré-colombiano (Maia) foi alvo de interpretações proféticas a respeito do fim do mundo. Antes mesmo de um real cataclismo de ordem planetária, essa notícia de que o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro deste ano, representou um abalo sísmico emocional muito mais intenso do que qualquer terremoto. Objeto de previsões apocalípticas, o calendário maia foi incorporado a diversas seitas religiosas que, mesmo mantendo o dia 21, resolveram antecipar o desastre mundial para quase todos os meses do início ao fim de 2012. Não sei como cheguei aos trinta anos, pois até a data do meu aniversário – dia 21 de maio – não escapou às especulações sobre o fim dos tempos.
 
Estava dirigindo o meu carrinho com bastante sossego quando, de repente, avistei numa traseira de ônibus um cartaz que ocupava toda extensão do vidro, com letras bem grandes, anunciando a extinção da vida no planeta Terra justamente na data do meu aniversário. Depois de ler tamanho disparate, o que era calmaria se tornou tormenta. Cheguei até a sonhar sobre a possibilidade de eu ser um cavaleiro do apocalipse, nascido com a missão de transmitir o fim à humanidade. Meu aniversário passou, assim como as demais datas previstas para o fim. Mais uma vez as previsões estavam equivocadas e o delírio dos falsos profetas só revelou a quintessência da esquisitice humana.
Segundo a psicanálise, o sujeito para lidar com algum material inconsciente que seja desagradável e impossível de ser elaborado com palavras, passa a encenar no corpo a sua dor. Ele grita, chora, faz catarses, produz filmes, escreve livros e novelas. Os longas-metragens norte-americanos são um excelente exemplo disso. Os filmes de catástrofe – preferência nacional nos EUA -, sempre indiscutíveis campeões de bilheteria, traduzem esse espírito paranóico, alardeando o medo e publicando-o. Ao ser dividido com o público em geral, o sofrimento se transforma em arte, minimiza-se e acaba virando uma inegável fonte de renda, principalmente em se tratando da indústria cinematográfica.
 
 
Neste final de ano (ou de mundo), a rede Globo produziu um seriado, “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, apostando na leveza da comédia para falar desse tema que seria trágico se não rendesse boas gargalhadas. Entrando na onda mística das profecias maias, a emissora espera suavizar o medo da população abordando um assunto tão temido com uma tônica humorística, além de garantir uma boa graninha para o saco do Papai Noel. Eu mesmo, como escritor, participei de um concurso de contos com esse tragicômico tema. Ainda não vi o resultado. Talvez esteja esperando o mundo acabar antes de dar uma olhadinha.
 
Para terminar esta crônica (e não o mundo!), e justificar o título que eu dei a ela, é bom lembrar que os próprios líderes maias, na América Latina, foram recentemente falar em público, para desmistificarem esses equívocos de interpretação do calendário. O que eles disseram é que o planeta completará um novo ciclo este ano e, por isso, passará – e já está passando – por mudanças significativas. De acordo com um sacerdote maia, o fim deste ano representará a união da natureza com Deus e dos corpos celestes com a mãe Terra.
 
Estamos vivendo um período de transição no nosso planeta. Segundo os espíritas kardecistas, o planeta deixará seu estatuto anterior de sofrimentos, provas e expiações, transformando-se numa Terra de regeneração. Mas isso é outro papo… O importante, para finalizar, é que devemos deixar de lado essa ideia de fim do mundo para pensarmos a finalidade do mundo. Temos que pôr um fim na mediocridade e hipocrisia para darmos início à nova era da sinceridade e consciência. Não há um fim como ponto final. O que há é um fim como finalidade. E a finalidade do mundo é a vida que devemos preservar. Realizarmos a natureza do mundo, com sustentabilidade e conscientização do nosso meio ambiente.
O mundo não vai acabar. E a vida continua… Viva o fim do mundo nos moldes artísticos! Vamos matar simbolicamente o mundo para ressuscitá-lo no real mais bonito e melhor, respeitando sua própria finalidade: A vida!
Alex Azevedo é escritor e psicólogo graduado pela UFF com formação em psicanálise e em psicoterapia

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