BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

sábado, 27 de abril de 2013

Novo Maracanã reabre com jogo de amigos

 
 
Foram quase 900 milhões de reais gastos, adiamentos na entrega da obra, disputa na Justiça e vários protestos, até de índios. Nos mais de dois anos e meio em que esteve fechado, o Maracanã tornou-se epicentro de polêmicas e deixou o futebol do Rio de Janeiro órfão. A espera pela tão aguardada volta da bola ao gramado se encerra no fim de semana, mas os problemas, não.
 
O novo Maracanã será inaugurado neste sábado, 27, em jogo dos amigos de Ronaldo contra os de Bebeto, com a capacidade total reduzida para 78.639 pessoas após uma reforma completa para adequar a arena construída para a Copa do Mundo de 1950 aos padrões exigidos para o Mundial de 2014. O chamado "templo do futebol" também será palco da decisão, assim como no trágico "Maracanazo" diante do Uruguai na final de 64 anos antes.
 
Mas, por enquanto, somente o interior ficou pronto e os operários ainda correm contra o tempo para terminar obras do exterior, acabamentos e a pavimentação do entorno do estádio antes do primeiro jogo oficial, o amistoso Brasil x Inglaterra, no dia 2 de junho. Esse será o único evento-teste completo antes da Copa das Confederações, que terá a final realizada lá em 30 de junho.
 
"Essa reinauguração representa a volta do futebol ao Rio de Janeiro. Nesse período em que o Maracanã ficou fechado o Rio perdeu seu ícone do futebol e todo carioca se sentiu meio órfão de um lugar que faz parte da história", disse à Reuters o artilheiro do Maracanã, Zico, autor de 333 gols no estádio.
 
"O Maracanã é o grande palco do futebol do Rio de Janeiro e agora está reabrindo num momento importante, com a Copa do Mundo e a Copa das Confederações", acrescentou o ex-jogador do Flamengo e da seleção brasileira, em entrevista por telefone.
 
O jogo de sábado será entre os times dos amigos de Ronaldo e Bebeto, membros do Comitê Organizador Local da Copa. Os torcedores serão os trabalhadores da obra e seus familiares nas arquibancadas, com 30 por cento da capacidade. Só dois portões de acesso vão funcionar, enquanto os outros ainda são verdadeiros canteiros de obra.
 
A previsão inicial de conclusão do estádio era dezembro de 2012 - data estabelecida pela Fifa como limite para as seis arenas da Copa das Confederações. Mas seguidos adiamentos atrasaram a abertura em quase cinco meses.
 
A reforma completa do complexo do Maracanã, incluindo as demolições do parque aquático Júlio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros, só será feita para a Copa do Mundo de 2014, e ainda podem ocorrer batalhas na Justiça.
 
Elitização e "shopping center"
 
Desde o fechamento para as obras, em agosto de 2010, uma das maiores preocupações dos torcedores diz respeito ao ambiente que o novo estádio terá. O Maracanã sempre foi reconhecido pelo apelo popular, mas agora há o temor de que o novo padrão de conforto da arena, e a privatização do local, tornem o Maracanã elitizado.
 
Além disso, há uma polêmica sobre a decisão do governo de demolir as arenas de atletismo e esportes aquáticos que funcionavam no local para a construção de estacionamento, lojas e restaurantes, com a justificativa de tornar o estádio mais atraente.
 
Atletas que usavam os locais para treinamento, inclusive visando a Olimpíada de 2016 no Rio, acusam as autoridades de estarem prejudicando o desenvolvimento esportivo brasileiro. O governo afirma que o consórcio que vencer a licitação tem o compromisso de construir novos centros esportivos próximos ao Maracanã.
 
O Ministério Público tentou suspender a licitação do Maracanã, citando a demolição dos locais e de uma escola, além da remoção de grupos indígenas de um prédio vizinho ao estádio, como motivos, mas o processo foi adiante devido a uma liminar obtida pelo governo. O anúncio do consórcio vencedor é esperado para os próximas dias.
 
"Há uma série de demolições arbitrárias... que retiram o caráter de um complexo que serve ao esporte, ao lazer, à cultura, à saúde e à educação da população e transformam o Maracanã numa espécie de centro comercial, shopping center, voltado para atender o turismo e as classes mais altas da população do Rio de Janeiro", disse à Reuters Gustavo Mehl, representante do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas.
 
Sem estádio, torcedor sumiu
 
A obra de quase 900 milhões de reais, a maior e mais cara de três reformas realizadas desde 1999, transformou completamente o estádio. Do gigante que no passado reunia com frequência públicos superiores a 100 mil torcedores, só restou o casco, que é tombado como patrimônio histórico.
 
A principal mudança foi nas arquibancadas. Em vez dos antigos dois anéis, agora existe uma inclinação única desde o topo do estádio até a beira do campo, o que garante uma boa visibilidade de qualquer lugar, de acordo com os responsáveis pela obra. Há também uma nova cobertura, que se estende sobre quase toda a arquibancada.
 
As novas cadeiras amarelas e azuis se unem ao verde do gramado para formar as cores da bandeira brasileira. Mas o conforto dos novos assentos reduziu ainda mais a capacidade do estádio, que já tinha sido diminuída para menos de 100 mil torcedores com as obras para o Mundial de Clubes da Fifa de 2000.
 
Durante o período em que o estádio ficou fechado, a média de público dos times do Rio de Janeiro despencou com a transferência dos principais jogos para o Engenhão, que, ao contrário do Maracanã, se encontra num local de difícil acesso tanto de carro como pelo transporte público.
 
Apesar de bem abaixo dos registros históricos de até 190 mil torcedores, o Flamengo, por exemplo, teve média de aproximadamente 40 mil torcedores no Campeonato Brasileiro entre 2007 e 2009, ante apenas 12 mil no ano passado. E as consequências foram sentidas também pelo comércio no entorno do estádio.
 
"Pensei até em fechar", disse David Pontes, dono de um bar que há 28 anos funciona na frente do estádio e sofreu uma queda de quase 80 por cento no faturamento durante o período em que o estádio esteve fechado.
 
"O Maracanã sempre foi o sustento da nossa família, mas acho que nunca mais será a mesma coisa. Mesmo quando reabrir, o público agora será diferente... Quem vai vir para o Maracanã pensando em consumir num 'pé-sujo' se o próprio estádio vai estar cheio de bares e restaurantes? Maracanã vai virar programa de rico", afirmou.
 
Desde março, com o fechamento do Engenhão devido a um problema estrutural encontrado na cobertura, a situação ficou ainda pior. Os jogos passaram para Volta Redonda, a 127 km do Rio, num estádio com capacidade máxima para 20 mil espectadores.
 
A Federação de Futebol do Estado Rio de Janeiro (Ferj) manifestou interesse em tentar realizar jogos dos times do Rio, incluindo a final do Campeonato Carioca, nos dias 12 e 19 de maio, no Maracanã, mas por enquanto não há qualquer confirmação.
 
Para a Fifa, que diversas vezes listou o Maracanã como principal preocupação nos preparativos para a Copa das Confederações devido aos atrasos nas obras, o ideal seria a realização de mais testes para a identificação de eventuais problemas.
 
"Maracanã é Maracanã. Qualquer problema no Maracanã é mais grave que em qualquer outro estádio pela dimensão que ele tem para o futebol no mundo todo. Vamos esperar que tudo corra bem", disse o diretor de Comunicação da entidade, Walter De Gregorio, em recente visita à cidade.

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