BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Por Dentro do Ritmo: a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel

 
 

 
 
A segunda parada da série ''Por Dentro do Ritmo'' é a Mocidade Independente de Padre Miguel. A palavra parada não poderia ser mais sugestiva para iniciar o especial sobre a bateria mais famosa do carnaval carioca. Inventora da paradinha nos áureos tempos de mestre André, hoje chamada de bossa, e dona de uma série de peculiaridades que tornam o seu ritmo ainda mais especial, a bateria Não Existe Mais Quente, sob o comando dos mestres Dudu e Beréco e a coordenação de Andrezinho, fará questão mais uma vez em 2014 de corroborar aquilo que a diferencia das demais.
 
 
 
Não... Não Existe Mais Quente
 
Ouvir a bateria da Mocidade é um exercício diferenciado. De forma tão acentuada, é a única do Rio de Janeiro a usar a afinação dos surdos de primeira e segunda invertida. Ao invés de uma primeira mais grave e a segunda mais média, adota o contrário da lógica das demais agremiações. Essa característica, somada a uma batida de caixa única e a forma dos surdos de terceira tocarem, além da afinação mais baixa dos ''centradores'', compõe um dos ritmos mais gostosos de se ouvir do carnaval carioca.
 
Essas características, porém, vem sofrendo um certo preconceito na visão de muitos amantes das baterias. Algumas críticas que a bateria da Mocidade sofreu e até décimos que perdeu no julgamento, foram justificados em cima dessa essência e não baseado no rendimento da ala. Mestre de bateria da escola desde 2010, mestre Beréco fala sobre a questão.
 
- Já tive justificativa aqui que me tirava ponto pela afinação do surdo de terceira. Isso eu acho errado. É uma tradição da Mocidade essa afinação. Se uma estivesse diferente da outra, eu até entenderia, mas não era essa a questão. Não posso querer que a Mangueira tenha um surdo de segunda e um de terceira. Acho que é uma questão cultural que precisa de mais atenção - conta Beréco.
 

As caraterísticas da bateria da Mocidade, principalmente a batida de caixa e a forma de as terceiras tocarem, fazem com que o andamento da Verde e Branco seja quase sempre ''mais atrás'' que as demais escolas. Recentes experiências num andamento mais acelerado provaram que  o ''bolo desanda'' quando adotado esse estilo. Em 2013, a Não Existe Mais Quente variou entre 144 BPM(Batidas Por Minuto) no início do desfile e 142 BPM na parte final.
 
 
 
 
Trazendo no DNA a marca que contribuiu bastante para a fama da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, Andrezinho é incisivo quando o assunto é a manutenção do ritmo característico da Verde e Branco. Ele fala como é trabalhar isso na cabeça dos jovens.
 
- Não temos esse problema aqui. Estamos fazendo um trabalho de base, na Estrelinha da Mocidade(escola mirim), que massifica na cabeça dos garotos o que é a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel. Não tem essa de ficar triste, cabisbaixo, achando que somos os únicos a tocar assim. Graças a Deus somos! Esse é o ritmo que fez a bateria da Mocidade se notabilizar. A característica será mantida - decreta Andrezinho, que está na coordenação da Superdireção de bateria desde o Carnaval 2012.
 
 
Surdo de Terceira
 
A renovação na bateria da Mocidade é mesmo visível. A começar pelo comando. Ao lado de Beréco e Andrezinho, o jovem mestre Dudu comprova o fato. Ritmista de destaque durante muito tempo na Mocidade e mestre de bateria da Unidos de Padre Miguel em 2010 e 2011, Dudu é filho de mestre Coé, outro que entrou para a galeria de grandes mestres da Mocidade. Ele explica como é o trabalho com os surdos de terceira da Mocidade.
 
- Aqui nós não temos um desenho de terceira. O que fazemos é organizar a hora de os surdos cortarem. Quando iniciamos esse trabalho, estava muito desorganizado e a coisa tava fugindo um pouco do ponto ideal. Todos cortam em determinados momentos do samba e valorizamos certas partes do samba, que nos oferece essa possibilidade - afirma.
 
Caixas
 
Ela é única! Muitas outras baterias, principalmente fora do Rio de Janeiro, tentam reproduzir a batida de caixa da Mocidade, mas da maneira como é executada na Verde e Branco de Padre Miguel ainda não conseguiram.
 
- Não é qualquer um que vai conseguir fazer. Ela é complexa e tem o diferencial de acentuações com a mão ruim também, o que aumenta o grau de dificuldade. Nos preocupamos bastante com a perfeição dessa batida, até porque é a nossa marca. Até por isso, temos feito ensaios só com o naipe para afinar ainda mais as coisas - diz Dudu.
 
 
- O engraçado é que vemos ritmistas antigos tirarem o mesmo som com uma mecânica diferente. Sabemos que é difícil e até por isso damos bastante atenção não só aos novos ritmistas como aos antigos também.
 
Bossas
 
- Temos quatro bossas, pelo menos por enquanto (risos). Faremos uma mistura de ritmos em algumas e o samba nos traz várias nuances diferentes. Mas teremos uma surpresa similar ao do ano passado. A nossa preocupação vai além do ritmo. Nos preocupamos em fazer uma performance interessante para o público também - promete Beréco.
 
Divisão dos naipes
 
Surdos de 01ª - 12
Surdos de 02ª - 11
Surdos de 03ª - 18
Caixas - 90
Repiques - 34
Tamborins - 36
Chocalhos - 30
Cuícas - 24
Agogôs - 12
Frigideiras - 10
Timbales - 8
Prato - 1

Escalação
 
Coordenação Geral: Andrezinho
Mestres: mestre Beréco e mestre Dudu
Diretoria: Dinil(Chocalho), Rodrigo Gom(Tamborim), Eugênio, Léo, Henrique, Celsinho e Hebert
Coordenadores: Nilton, Lázaro, Gilvan, Junior
 
 
 

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