BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Na Lapa, a celebração dos 70 anos da Vila Isabel promove um 'encontro' de sonhos...





Noel Rosa e a Unidos de Vila Isabel jamais se conheceram. Esses caprichos divinos que ninguém explica. Os dois maiores pilares de um dos bairros que traz no seu DNA a melodia e boemia. O poeta da Vila morreu precocemente aos 26 anos, em 1937. E a escola de samba foi fundada apenas nove anos mais tarde. Mas no imaginário dos bons sambistas eles se reencontraram na noite de quarta-feira. E choraram, cantaram e celebraram os 70 anos de uma das agremiações mais representativas da história dos desfiles.
Em uma noite mágica no bar Carioca da Gema, na Lapa, os grandes sambas que embalaram a escola em sua trajetória foram relembrados na noite de sonhos. O evento foi idealizado por amantes da agremiação, sem a participação oficial de segmentos oficiais da azul e branca. Carlos Fernando Cunha convidou Marcelinho Moreira, André Diniz e Paulinho da Aba para entoar os sambas (não só os de enredo que homenageiam a setentona). A percussão teve participação maciça de integrantes da Swingueira de Noel: Mangueirinha S Vicente, JP Alves, Cláudio Francioni e Raoni Ventapane. E ainda Roger Resende no violão de 6, Armando Junior no violão de 7 cordas e Guilherme Salgueiro (Da Vila) no cavaquinho. 

André Diniz não leva a Vila no nome, mas a escola está marcada na sua vida e no seu coração. Segundo ele, a diferença da agremiação está na proximidade musical de seus poetas. - O Noel, apesar de não ter participado da escola, morreu antes, deixou um legado de prosa e verso. A boemia daquela região da cidade ficou por ali. E isso foi se desenvolvendo com os músicos da região. Vila Isabel já foi o bairro que mais vendeu cerveja no Brasil. Considero um dos locais mais musicais da cidade.




André fez mistério sobre sua participação na disputa de samba deste ano. - Eu confesso que a falta do Leonel é grande. Não apenas pela sua qualidade como compositor e ser-humano. Ele tinha uma importância muito grande em nossa parceria, ainda não conversei com o Martinho sobre isso, vamos aguardar. As pessoas cobram, pedem para caprichar no samba deste ano - afirma o compositor.



Idealizador do projeto, Carlos Fernando Cunha, salientou que o evento é a celebração da amizade. - Esses músicos têm em comum a paixão pela Vila. Não é uma pretensão nossa fazer nada oficial, a gente se reuniu para fazer um tributo para a nossa escola e convidamos todos que torcem e admiram a trajetória dessa agremiação. A Vila Isabel vai um pouco além do desfile de escola de samba - afirmou.

A noite foi uma viagem no tempo. Desde os primeiros sucessos de Noel Rosa que foi quem primeiro cantou o bairro através de canções como "Feitiço da Vila", até os marcantes sambas de exaltação de Martinho da Vila, como "Renascer das Cinzas" e "Boa Noite", passando claro pela safra recheada de clássicos do samba-enredo que fizeram a história da Vila. Desfilaram pelo palco do Carioca da Gema obras do quilate de "Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade", "Kizomba", "Raízes", "Pra tudo se acabar na quarta-feira", "Direito é direito" e demais sambas inesquecíveis.



As tradicionais escolas de samba tem identidade, são como pessoas. Algumas são atrevidas, transgressoras, outras comedidas, classudas e inconformadas. A Vila Isabel leva no seu documento o desejo de igualdade. Com enredos calcados na liberdade, na luta por um mundo mais justo, traçou sua trajetória com "Kizomba", "Direiro é Direito", "Raízes", "Angola", "Trabalhadores do Brasil", "Se esta terra fosse minha" e foi campeã pela última vez com uma inesquecível festa camponesa no arraiá.

A Vila Isabel em suas recentes agruras financeiras, administrativas e políticas, buscou alicerce na sua raiz, a base de toda árvore forte: a comunidade. Foi graças à ela que superou com dignidade as adversidades. E mostra a cada dia que lá pelas bandas do Boulevard 28 de Setembro o lema cantado em verso prosa por Noel segue firme como rocha: "quem nasce lá na Vila nem sequer vacila ao abraçar o samba. Que faz dançar os galhos do arvoredo e faz a lua nascer mais cedo."
Fonte: http://www.carnavalesco.com.br/


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