BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Exposição traz toda a genialidade da cultura chinesa no CCBB no Rio

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O artista Cai Guo-Qiang traz para o CCBB do Rio suas instalações gigantescas. Artista oriental valoriza a criatividade de pessoas comuns, os 'Da Vincis do Povo'

Como nós jornalistas, o artista chinês Cai Guo-Qiang também conta histórias. Através de invenções de 12 camponeses conterrâneos, ele apresenta ao mundo, agora no Rio de Janeiro, o valor de cada ser humano. Na China, com o rápido desenvolvimento e modernização, muitos trabalhadores das zonas rurais migraram para as cidades para trabalhar nas indústrias e se tornaram pessoas à margem do processo de desenvolvimento. Cai, através de instalações gigantescas - como aviões, submarinos, helicópteros, disco voador - valoriza a criatividade de pessoas comuns, os Da Vincis do Povo, nome dado à exposição.
 
Serão expostas 14 instalações de grande porte, que incluem, também, painéis feitos a partir de sua excêntrica técnica de pintura: a queima de pólvora nos tecidos. A mostra ocupará simultaneamente o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), das 9h às 21h, e o Centro Cultural Correios, das 12h às 19h, do dia 7 de agosto ao dia 23 de setembro. Quem assina a curadoria é o carioca Marcello Dantas, que também atua como designer e diretor de documentários.
 
Filosoficamente, as frases “O que é importante não é se você pode voar” e “Nunca aprendi a pousar” complementam as peças presas no alto das estruturas arquitetônicas por onde a mostra passa. No Brasil, a exposição já esteve em Brasília e em São Paulo, sendo vista por 700 mil pessoas. O currículo do artista reúne prêmios como um Leão de Ouro da Bienal de Veneza de 1999 e um Praemium Imperiale (equivalente a um Nobel do mundo artístico) de 2012, além dos espetáculos pirotécnicos nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. O que já seria um bom motivo para garantir um lugar nessa temporada da mostra no Rio. O chinês promove, neste sábado, o último dia do workshop UFOcinas Crianças Da Vinci, no CCBB, às 14h, 15h e 16h.
 
Cai conversou com exclusividade e abriu o coração sobre as inspirações que o nosso País deu a ele; sobre sua formação; sobre arte contemporânea e suas páginas na cultura de uma sociedade; sobre seu compromisso com as crianças e seu hábito de colecionar; além de revelar segredos da juventude, quando era tímido, extremamente racional e desconfiado. Características que não refletem sua realidade criativa e espetacular.
 
A exposição “Da Vincis do Povo” é grandiosa e consegue representar mais do que mostra fisicamente, através da sua intenção de inclusão social e democratização da arte. Você imaginava a proporção que esse trabalho teria?
 
A grandiosidade dos trabalhos em Da Vincis do Povo foi catalizada pelos espaços de exibição no Brasil. Em Brasília, um dos pavilhões do CCBB foi ao ar livre, a fim de que as máquinas voadoras em Fairy Tale (Conto de Fada) pudessem estar visualmente conectadas ao céu, à grama e ao horizonte. Em São Paulo, as galerias são fechadas e relativamente pequenas, íntimas, então, tive que colocar meus trabalhos maiores - como os aviões, submarinos e discos voadores - na rua. No Rio de Janeiro, a grandiosidade da cúpula do CCBB me fez reconfigurar a obra Complex em um obelisco, um monumento vertical com os aviões, helicópteros e submarinos, todos voando ao seu redor.
 
De onde vem suas inspirações?
 
Como sou um conservador, uma pessoa tradicional, preciso me contradizer algumas vezes. Todo tipo de fenômeno do nosso tempo captura a minha fascinação e estimula minha imaginação. Sou curioso por coisas que nunca foram pensadas ou feitas antes. E, principalmente, quero ver algo que me choque e me surpreenda.

Você faz alusões aos produtos que, graças à globalização e ao capitalismo, são “Made in China”. Fale um pouco sobre isso.
 
Os imigrantes que se moveram do campo para as áreas urbanas são a principal fonte de mão de obra barata chinesa para a indústria. No entanto, com os camponeses inventores, os quais eu escolhi para essa exibição, estão tentando mostrar suas criatividades individuais e projetar suas vozes independentes através de suas invenções. Eles estão buscando seus próprios sonhos.
 
O que você tem achado do Brasil? Como você definiria expor aqui?
 
Estou com a impressão de que o Brasil possui uma cultura diversa e multifacetada, onde todo tipo de cultura pode se misturar com facilidade. Vendedores de biquíni podem vender suas peças ao lado de pescadores oferecendo flores a Iemanjá na praia. Aqui no Brasil, minha agenda sociopolítica por trás da exibição é mais fraca, porque, ao contrário da exibição em Xangai, ela não possui uma exposição mundial como pano de fundo. No entanto, no Brasil, os efeitos visuais dos trabalhos se tornam mais românticos e artísticos.
 
Você tem como hábito colecionar coisas. Além das obras dos inventores chineses expostas, o que mais você coleciona?
 
Tenho mais de 200 quadros do artista socialista russo Konstantine Maksimov’s. Ele ensinou arte na Central Fine Art Academy, em Pequim, durante a década de 1950, e teve grande influência sobre os artistas chineses da minha geração.  Através de sua obra, eu tento resgatar esse período histórico e explorar como o realismo socialista e outras formas semelhantes de arte política podem influenciar o destino dos artistas.
 
Há aproximadamente 30 anos, você começou a desenhar com pólvora em superfícies planas. De onde veio essa ideia?
 
Tempos atrás no Japão, gradualmente comecei a trabalhar ao ar livre, porque a minha casa era muito pequena. Quando jovem, era tímido, extremamente racional e desconfiado. Essas são características negativas para um artista, então tive que romper essa personalidade. Na minha busca por uma assinatura artística, descobri que a pólvora é extremamente acessível, já que meus amigos e vizinhos faziam bombinhas caseiras. A falta de controle e a espontaneidade de se trabalhar com a pólvora me permitem, de certa maneira, trabalhar com a autodestruição.
 
A China apresenta ao mundo grandes artistas, cada um com um olhar mais diferente do que o outro, como Ai Weiwei e os Gao Brothers. Você acredita que a arte de todos, polêmica ou não, colabora para a construção de um país mais justo socialmente e democrático?
 
Basicamente sim, porque essa produção artística permite que diversas vozes e opiniões coexistam. É o básico para uma sociedade democrática e saudável.
Você participou de filmes de artes marciais nos anos de 1970 e cursou Cenografia. Como essas duas experiências contribuíram para a sua arte?
 
O trabalho em teatro e na montagem de palcos me ensinou como trabalhar com um grande número de pessoas, e como criar o espírito de equipe. Este treinamento também me ensinou como usar o espaço para expressar tempo e criar instalações visualmente dramáticas. Isso me ajuda a criar trabalhos com os quais os espectadores possam interagir.
No Prédio Histórico dos Correios ficarão as invenções criadas pelas crianças durante o período exposto em Brasília e em São Paulo, além das que serão concebidas no workshop aqui no Rio. As obras formam a instalação ‘Crianças Da Vincis’. De onde veio essa atenção especial com os pequenos?
 
Eu me sinto como uma criança que nunca cresceu. Toda vez que trabalho com elas, sou capaz de ver o meu passado com mais clareza. Se a gente puder retribuir à sociedade através da arte, qual seria a mais positiva extensão? Quase sempre a gente pode achar isso nas crianças, porque elas são o nosso futuro.

Fonte:  Ana Paula Soares
 

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