Fernanda Gomes inaugura exposição na Laura Alvim
Arsenal. Objetos em madeira criados pela artista, que busca “ampliar a dimensão da preciosidade das coisas”
Artista reúne pequenos objetos do dia a dia em mostra que é inaugurada nesta quarta-feira
RIO — Um saco plástico dança preso à janela aberta na Galeria Laura Alvim, em Ipanema. O mar, paisagem infinita, parece emoldurar o objeto, uma das esculturas de Fernanda Gomes.
A artista, econômica, ocupa uma sala da galeria, com vista para a praia, com duas ou três sacolas plásticas, uma pipa (ou o resto dela), placas de vidro, dois caixotes de madeira. Mas, na exposição que abre nesta quarta-feira, às 19h, para convidados, Fernanda tem toda a galeria à disposição para lembrar ao espectador que o mundo é precioso e que é preciso “expor a pele fina” às possibilidades de poesia que ele oferece.
— O saco plástico amarrado a um fio pode ser um brinquedo, mas pode ser também uma escultura. O plástico é um material antiquíssimo. Você percebe que não tem como esgotar um assunto? — pergunta a artista, olhar fixo na praia de Ipanema.
Como na grande exposição que fez no Museu de Arte Moderna do Rio, entre dezembro do ano passado e abril deste ano, a artista pretende voltar ao espaço expositivo e seguir alterando os objetos da mostra. Cria, assim, um “método” de reforçar a ideia de que não se pode esgotar um assunto.
— Mas como renovar uma ação para que a continuidade não seja só um “seguir fazendo”? Como realmente aproveitar ao máximo tudo?
— segue questionando a artista, que escolhe cautelosamente as palavras como se escolhesse os objetos de sua exposição.
Delicados fios presos à parede são esculturas, bem como as sacolinhas plásticas. Em alguns cantos, pilhas de moedas de R$ 1, um pequeno vaso de cerâmica ou as sementes de uma árvore da qual não sabe o nome.
A um dia da abertura, Fernanda, um dos 11 nomes brasileiros da 30ª Bienal de São Paulo, em cartaz até 9 de dezembro, ainda preparava as salas de sua mostra no Rio, enquanto discorria sobre o que é importante dizer ao leitor de um jornal.
— Parte do meu trabalho é justamente abrir minha percepção, aguçar meus sentidos e tentar não precisar de palavras — diz ela. — Me custa muito esforço encontrar uma posição que me satisfaça. Como funcionar num mundo perverso como esse? — pergunta ela outra vez, cercada de suas “sacolas-esculturas”. — Chega um momento em que as coisas vão se encontrando, em que as coisas escolhem seus lugares na exposição. Fico curiosa para ver como tudo vai se desenvolver — completa ela, consciente de que o acaso acaba por responder algumas questões sozinho.
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