BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Poetas de parede

Coletivo Transverso espalha poesias pelos muros de todo o país a partir de rede de colaboradores


As intervenções do Coletivo Transverso estão por todo o Brasil. 


Atenção: isto pode ser um poema”. Caminhando pelas ruas do Rio, de São Paulo, de Brasília ou até de Quirinópolis, no interior de Goiás, você pode se deparar com uma chamada dessas ou várias outras intervenções poéticas reproduzidas em espaços coletivos. Elas são obra do Coletivo Tranverso, que mistura arte urbana e poesia e já ocupa muros de Norte a Sul do país e até de outros continentes. “Queremos chamar a atenção daqueles que andam de olhos abertos para a poesia que há, ou que pode haver nas ruas”, diz o grupo.

O Coletivo Transverso foi criado em 2011 em Brasília pela artista plástica Patricia Bagniewski, a atriz e poeta Patrícia Del Rey e o mestre em literatura Cauê Novaes, que se uniram para levar a poesia para o cotidiano da cidade. “Eu tinha acabado de chegar em Brasília para o mestrado em literatura na UnB, quando conheci um pessoal do teatro e das artes plásticas, dentre eles as Patrícias. Nós três iniciamos a proposta de realizar intervenções urbanas com foco em poemas autorais”, conta Cauê, que hoje vive no Rio.

Por onde o trio passava, as paredes começavam a conversar sobre vida, sentimentos e interações: “O afeto te afeta?”, “Mais deleite, menos delete”, “Não creia em tudo que lê”, “Perigo! Você pode estar paranoico”, “(Des) vende-se”, “Em caso de dor, dance”, etc. “A primeira técnica utilizada foi o stencil, aliado ao haikai e à poesia concreta. De lá pra cá ampliamos nosso repertório de técnicas, com o lambe-lambe, projeção, performance, entre outras.”

As influências vão dos clássicos ao próprio cotidiano: “Manoel de Barros, Leminski e Augusto de Campos são referências importantes no campo da literatura, que é a principal interface da nossa linguagem de rua. Mas a principal fonte de inspiração é a rua, os ditados populares, e as formas de arte que diariamente surgem no espaço público. Esta constante renovação estabelece um diálogo que só é possível na arte urbana”, diz Cauê.

Ocupação poética colaborativa

De lá para cá, além das técnicas, o grupo ampliou também o alcance das mensagens. O Coletivo Transverso tem uma proposta colaborativa: qualquer pessoa pode fazer download dos poemas, imprimir e espalhar pela sua cidade. “Disponibilizamos gratuitamente nossos arquivos de lambe-lambe, para que as pessoas imprimam e colem em suas cidades, e colocamos à venda máscaras de stencil com nossos poemas”, diz Cauê.

O trio circula principalmente pelo Rio, por São Paulo e por Brasília, mas suas palavras vão bem além: “Além desses lugares, e das viagens que fazemos levando material, como a que a Patrícia Del Rey fez recentemente para a China, temos muitos colaboradores em lugares onde nunca fomos pessoalmente, como Berlim, na Alemanha, e Quirinópolis, em Goiás”, diz. “Sequer sabemos ao certo exatamente quais onde já foram realizadas intervenções com nosso material, e quais dessas permanecem hoje”.

Além dos colaboradores, o Coletivo Transverso angariou também muitos fãs nos seus três anos de intervenções. A página do grupo no facebook já reúne mais de 15 mil pessoas. “Já é comum encontrarmos, durante a realização de alguma intervenção na rua, pessoas que acompanham o nosso trabalho. Pelo facebook e e-mail recebemos também muitas sugestões, perguntas, pessoas interessadas em participar, ou com dúvidas quanto a seus próprios trabalhos na rua. É uma troca muito produtiva, e muitas parcerias que surgem dessa identificação do público com nossa proposta”.

Cauê acredita que a arte urbana tem um grande potencial para transformar a cidade: “A transformação na cidade é instantânea. Você modifica a paisagem, insere um discurso ou um desenho onde havia um muro branco. Já a mobilização de moradores, e a transformação das relações sociais no espaço público demoram bem mais. Acontece que a arte urbana é irremediavelmente coletiva, e estamos num momento em que muitas discussões importantes estão presentes nas ruas”.


Fonte: Renata Saavedra





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