BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Verão do isopor...
 
Encontros nas ruas, praia e praças em boicote aos altos preços mobilizam milhares de pessoas por todo o país
 
Meninas se reúnem na praça São Salvador, na zona sul, para o Isoporzaço
  
O point desse verão é a rua: os cariocas antenados vão se reunir nas praças e esquinas da cidade, com sua espontaneidade típica e um isopor a tiracolo. Essa é a proposta de eventos como o Isoporzinho e o Isoporzaço, encontros que têm mobilizado centenas de pessoas interessadas em aproveitar o tempo livre e a companhia dos amigos pagando um preço justo.
 
 
 

Um dos primeiros encontros com isopor a tiracolo da temporada aconteceu no dia 23/01, em Botafogo, e fez tanto sucesso que já há encontros similares agendados por todo o país – de Manaus a Porto Alegre. Em terras fluminenses, os eventos vão de Volta Redonda a Niterói, passando por Duque de Caxias, Nilópolis e São Gonçalo. Em comum, todos têm como endereço uma praça, praia ou esquina, e conciliam diversão com a possibilidade economizar.

O VJ Guigga Thomaz, que organizou o 'Beber de Isoporzinho' na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio, estava assustado com os preços dos bares cariocas. “Eu passei mais de um mês fora do Rio a trabalho nas festas de fim de ano. Quando voltei, encontrei duas amigas em um bar em Botafogo. Tomamos nove cervejas e dois refrigerantes e a conta deu mais de 100 reais! Achei que estava errado. Um mês antes eu tinha pago R$7,50 na garrafa de cerveja, o que já era caro, mas agora está custando R$9”, conta.

Guigga postou então no facebook sua indignação: “Minha moda desse verão carioca vai ser o Isoporzinho! Em Sampa a galera está de Rolezinho no shopping... Carioca não precisa ir a shopping no verão, até porque tem mais opções de lazer "gratuitas": praias, cachoeira, praças, bares, etc... Mas os preços que estão cobrando para consumo nesses lugares é absurdo! Eu já tenho o meu isoporzinho, vou passar a comprar cervejas no mercado, gelo e levar minha própria cerveja pras paradas. Ah, e meu próprio amendoim também. Partiu?”

O VJ não esperava tamanha repercussão. “A ideia não era começar um movimento, mas o post teve muitas curtidas e decidi marcar uma cerveja. Criei o evento e chamei 40 pessoas, mas confirmei apenas com cinco amigos por telefone. No dia, mais de 140 pessoas já haviam confirmado presença no facebook, e mais de 100 realmente passaram por lá, alguns com seus isopores e bolsas térmicas. Foi muito legal, cheguei às 19h30 e fiquei até às 6h e gastei apenas R$25”.

Desde então, a moda pegou: em apenas uma semana a iniciativa do VJ se espalhou pelo Brasil e mobilizou centenas de pessoas. “O Isoporzinho tomou uma proporção gigantesca, virou um monstro”, brinca Guigga, que já deu entrevista sobre o assunto até para sites internacionais. Apenas na cidade do Rio, há seis Isoporzinhos confirmados no próximo fim de semana, em Copacabana, Laranjeiras, Leme, Vila Valqueire, Humaitá e Centro – além dos Isoporzaços, que seguem o mesmo princípio. Nas páginas de eventos e comunidades voltadas para o tema há espaço para trocar ideias sobre o custo de vida nas metrópoles brasileiras ou sobre dicas de como gelar bebidas.

A praça lotada e os bares vazios avisam que a moda pegou. Mateus Campos, de 23 anos, ficou sabendo do evento pelo Facebook e ficou animado na hora. "Vai além da coisa dos preços, é uma maneira diferente de ocupar o espaço público. O carioca não está acostumado a essa 'farofa', acha feio. Trazer o isoporzinho de casa é genial. Você enche ele com a bebida que preferir e não precisa sair do lugar para comprá-la. É mais uma maneira de reunir as pessoas ao ar livre. Junta um monte de fatores: o calor, os preços surreais e a vontade de estar junto aos amigos na rua." Este foi o primeiro de Mateus, mas garante que fará sempre que possível. Isabel Accioly encontrou as amigas depois do trabalho e aprovou a iniciativa do Isoporzaço."Fui pega de surpresa, mas encontrei o pessoal já munido do isopor. Achei ótimo e tem tudo para fazer bastante sucesso, é a cara do Rio. O clima é descontraído e tem espaço pra todo mundo."

A nova mania já virou até tema literário, inspirando a Ode ao Isoporzinho do dramaturgo Luiz Ribeiro: “Eis que aparece a ideia do Isoporzinho! E que ideia genial! Ela une uma das melhores características do brasileiro: a capacidade de integração, de ocupar espaços públicos para diversão, com a intenção semi-política de se divertir. Em um mundo de completa falta de humor e engajamento para causas que os próprios engajados não estão interessados, o isoporzinho aparece como um pastiche de rolezinho, só que na rua, meio sem organização e com a única intenção de fazer um “evento etílico-político contra a ganância dos bares”. O evento tem uma auto-ironia brilhante, pois afirma que o bar é necessário sim, mas apenas para o uso dos banheiros nas horas do aperto”.

 “Manter essa prática só depende da vontade  de cada um. Não precisamos fazer grandes eventos – isso deve passar, mas a ideia de beber e reunir os amigos pagando menos eu acho que vinga sim, vai além do verão”, diz Guigga.  Como movimento cultural, manifestação política ou moda de verão, o Isoporzinho ainda pode render bons momentos aos boêmios Brasil afora.


Fonte:  Colaboração de Renata Saavedra e Yzadora Monteiro

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