BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

terça-feira, 3 de julho de 2012

FALANDO DE FUTEBOL




O abismo espanhol



A soberba atuação da Espanha, na final da Eurocopa, evidenciou o abismo técnico e tático que a separa do resto do mundo — do Brasil principalmente. Sua vitória incontestável, desta vez sem muitos toquinhos pros lados ou pra trás e sempre buscando o gol italiano com objetividade, me deixou (e também deve ter deixado Mano Menezes) com um frio na espinha. O que fazer para neutralizar esse fantástico meio de campo formado por Busquets, Xabi Alonso, Xavi e Iniesta — ao mesmo tempo, cérebro, coração e pulmões de "La Roja"? Como impedir o "Tiki-Taka", seu incomparável, preciso e, por vezes, enervante toque de bola, sem ficar correndo atrás de seus jogadores como numa roda de bobo? Portugal e a própria Itália, na decisão, tentaram uma marcação sob pressão no campo espanhol. Deu certo por um determinado período de tempo (mais pra os portugueses do que para os italianos). Ambos, porém, sucumbiram no fim — Cristiano Ronaldo e seus pares estavam exaustos na prorrogação e os italianos acabaram liquidados bem mais cedo e de forma contundente. Bicampeã da Eurocopa, com uma Copa do Mundo conquistada entre ambas, a Fúria chegou, com justiça, a uma inédita tríplice coroa no futebol. Se continuar jogando assim, tem grandes chances de fechar a quadra, no Brasil, em 2014. Não somente porque sua seleção é excepcional mas também porque até hoje nenhum adversário encontrou uma fórmula de fato eficaz para enfrentá-la.



A GRANDE VANTAGEM. Como a Espanha chegou a tal ponto? Não somente porque tem uma grande geração de craques mas, acima de tudo, porque possui uma base pronta, que treina e joga junta o ano inteiro: o Barcelona, melhor time do mundo, com folgas. Houve um momento, nesta Euro-2012, em que a Fúria chegou a ter juntos em campo sete jogadores do supertime catalão. E olhe que David Villa e Puyol, titulares absolutos no Barça e na "Roja", contundidos, apenas acompanhavam os jogos das arquibancadas.


FERROLHO À VISTA. Após a final da Euro, Luís Carlos Júnior, André Rizek, Carlos Eduardo Lino e eu conversamos com Mano, no Seleção SporTV. Eis um resumo do que o técnico da seleção nos disse:

— É quase impossível estabelecer um jogo de igual para igual com a Espanha, atualmente. É muito difícil controlar a posse de bola que os espanhóis têm. Precisamos entender que quando se vai jogar com quem está melhor, é necessário encontrar uma maneira de diminuir essa diferença. Não dá pra estabelecer igualdade ainda não...

— O diferente (da maneira como jogaram) da Itália (contra a Espanha) e do Chelsea (que bateu o Barcelona) dá pra ver no dilatado placar...

— Joga sem atacantes mas ataca o tempo inteiro. É esse o paradoxo do futebol que eles conseguiram criar e executam muito bem. Quando se ganha, a confiança aumenta tanto que você monta o time de várias maneiras e o padrão continua o mesmo.

— Não dá pra pressionar muito na frente. Você não pode abrir as linhas. Senão acaba tomando gols em contra-ataque como a Itália tomou. E olha que isso em termos de futebol italiano é uma raridade...

Em síntese: quando enfrentarmos a Espanha e na Copa das Confederações, no ano que vem, há grande chance de que isso aconteça), se prepare para ver o Brasil numa retranca feroz. Mas, diante do que têm jogado uma seleção e a
outra, dá pra dizer que Mano está errado? Não.


QUE BOBAGEM! A discussão sobre se a maneira de jogar da Espanha, por vezes, é chata ou não, ganhou ares de "Fla-Flu". Quem gosta da "Roja", incondicionalmente, ataca, com "Fúria", os que a criticam, não pela qualidade indiscutível de seus jogadores, mas pela forma as vezes monótona com que domina e cerca seus adversários, como se não tivesse pressa alguma de chegar à vitória. Que tolice! Gosto não se discute. Aplaudi de pé os 4 a 0 sobre a Itália, mas quase dormi nos 4 a 0 sobre a Irlanda — quando a incomensurável superioridade espanhola poderia ter sido traduzida num placar muito maior. E daí? Os espanhóis têm o direito de usar e abusar do "Tiki-Taka". Mas quando o fazem, sem buscar o gol (ainda que seja para não se expor a riscos e cansar o rival), na minha opinião, empobrecem o espetáculo. O torcedor que aplauda ou vaie de acordo com as suas preferências. Sem patrulhas!


PÉ EMBAIXO. Uma das diferenças marcantes entre os jogos da Euro-2012 e os que nos acostumamos a ver no Brasil (clubes e seleção) foi a velocidade. Perto da rapidez com que quase todas as equipes européias se deslocavam, nossas
partidas parecem disputadas em câmera lenta. Outra distinção pode se notar na disposição em campo. As seleções européias se apresentaram quase todas compactas, enquanto nossas equipes jogam esgarçadas, com defesa, meio-campo e ataque distantes. Paramos no tempo e no espaço.

E O ADRYAN, HEIN? Como se costuma dizer na gíria da garotada: "Demorô"...

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