BLOG CARLOS RIBEIRO ARTES

terça-feira, 3 de julho de 2012

Quero emocionar as pessoas’, diz Ferreira Gullar em lançamento de CD de poesias


Escritor autografa disco com 29 de seus poemas preferidos em São Paulo nesta terça

RIO - Ferreira Gullar já perdeu a conta do número de poemas que escreveu ao longo de uma vida que inclui a participação na fundação do movimento de poesia concreta, prêmios, crônicas e feitos memoráveis para a língua portuguesa. Mas o escritor, de 81 anos, reservou tempo para rever sua obra e dar voz às suas 29 poesias preferidas. Ele lança o CD “Poemas de Gullar por Gullar” (pela gravadora Luz da Cidade) nesta terça-feira, na Casa do Saber, em São Paulo, às 18h — e garante uma noite de autógrafos pelo Rio, ainda sem data definida, embora os discos cheguem às lojas já nesta semana.

— Já fiz milhares de poemas durante a minha vida; neste trabalho estão os meus preferidos. Mas levei em conta o tamanho, não queria falar poesias enormes. Abri com o poema “Fica o não dito por dito”, do meu último livro (“Em alguma parte alguma”), porque dá a ideia da minha visão da poesia hoje. Atualmente, entendo que a poesia não diz tudo o que tem que ser dito. Então, faz de conta que eu disse. É irônico — analisa Gullar em entrevista ao GLOBO por telefone, que teve a oportunidade de revisitar seu trabalho. — Gravar esses poemas me fez viajar pela minha obra e pela minha vida.

Mais do que lançar discos, livros e participar de debates, a grande intenção deste poeta nascido no Maranhão é nobre:

— Eu quero é agradar, emocionar e comover as pessoas. Que sintam alegria lendo ou ouvindo minhas poesias.

Desde sua primeira obra, “Um pouco acima do chão”, de 1949, seu processo de composição dependia da maneira como os acontecimentos afetavam sua maneira de pensar. Hoje, Gullar ainda se utiliza do mesmo sentimento para aprovar seus textos.

— Sou muito racional, vivo refletindo, sou político e um monte de outras coisas. Mas quando se trata da poesia, sou descomprometido. Sou solicitado pelo espanto. Alguma coisa acontece que me tira do equilíbrio e e eu viro poeta. Quando escrevo, penso num texto que corresponda à música e que transmita uma imagem. É preciso respeitar as pausas, os silêncios, o tom do que você quer passar para o leitor. Só deixo o poema nascer se sinto que aquilo ali está bom de acordo com o meu julgamento. Se não está no nível que eu espero, eu não publico.
Esta não é a primeira vez que Ferreira Gullar grava alguns de seus poemas, mas foi este trabalho que o fez lembrar de um passado distante. É com orgulho temperado por gargalhadas que ele revive um capítulo curioso de sua caminhada, ainda “aos 18 ou 19 anos”.

— Meu primeiro emprego foi na Rádio Timbira, no Maranhão. Eu era um bom locutor. Mas eu não gostava daquela impostação monótona. Um dia me rebelei, comecei a esculhambar anúncios e notícias e acabei demitido — diverte-se, aproveitando para destacar alguns autores cujas obras em áudio ele conserva em seu acervo pessoal. — Tenho João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade. Se você lê um poema e depois ouve, a interpretação é completamente diferente.

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