Ontem, 10 de Junho foi comemorado em Portugal e, porque não, em todo mundo o Dia de Camões. A data refere-se a sua morte(1580) e foi estabeleciada a partir de 1977, para todas às comunidades portuguesas ao redor do mundo. Nesta data é comemorado "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas", uma maneira que o estado à época se utilizou para dissolver a imagem de Portugal como um país colonizador e se criar um novo senso de identidade nacional que englobasse os muitos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. Essa nova ideologia foi reafirmada nos anos 80 com a publicação de Camões e a Identidade Nacional, um volume elaborado pela Imprensa Nacional contendo declarações de importantes figuras públicas da nação.
Tirando as peculiaridades da data e suas possíveis e prováveis intenções políticas, devemos reverenciar este que, sem dúvida, é um dos maiores autores e poetas da literatura mundial. Seu poema épico Os Lusíadas, por si só, já é uma obra-prima da literatura portuguesa por trazer 1102 estrofes somando-se um total de 8816 versos decassílabos.
E ao fazer uma rápida busca na internet encontrei um vídeo e matéria de adaptações do texto de Camões cantado em Rap sendo apresentado e efusivamente aplaudido e não pude deixar de publicar como minha homenagem, sobretudo, ao grande autor.
O tempo acaba o ano, o mês e a hora
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
Em prisões baixas fui um tempo atado,
vergonhoso castigo de meus erros;
inda agora arrojando levo os ferros
que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.
Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
que Amor não quer cordeiros, nem bezerros;
vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
parece me que estava assi ordenado.
Contentei me com pouco, conhecendo
que era o contentamento vergonhoso,
só por ver que cousa era viver ledo.
Mas minha estrela, que eu já'gora entendo,
a Morte cega, e o Caso duvidoso,
me fizeram de gostos haver medo.
Luis de Camões
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