Aproveite antes que acabe
Rio e inverno não combinam. É o que diz a lenda. Rio é sol, é céu, é sul. A cidade onde o verão nunca acaba. Então por que cargas d´água Angélica e Luciano Huck mantêm uma lareira em casa? O que faz um dos restaurantes mais antigos da cidade continuar funcionando com o fondue como principal atração de seu cardápio? E já reparou que, pouco a pouco, a cerveja, bebida típica de tempos de estio, vai sendo substituída pelo invernal vinho tinto nas mesas mais descoladas daqui?
O Rio tem inverno, sim. Sempre teve. Eu me lembro muito bem de um que, três anos atrás, caiu numa quarta-feira. Foi na segunda quarta-feira de julho. Eu nunca mais me esqueci daquele inverno na quarta-feira porque foi o dia em que todos os cariocas tiraram as roupas de lã do guarda-roupa.
É esta a principal característica do inverno carioca: a total descombinação entre as peças de roupa da estação. Até a Rio Fashion Week já desistiu de criar moda para a época mais fria do ano. E investiu na moda que a cidade aparentemente entende: a de verão, a moda praia. Guarda-roupas do Rio não abrigam meias de lã, japonas ou chapéus de feltro. Ou, pelo menos, não abrigam estas peças todas juntas. Quem tem meia de lã não tem cachecol. Quem tem calça de veludo não tem camiseta térmica. O resultado é o improviso. A deselegância discreta das meninas de São Paulo já foi cantada em prosa e verso. Falta algum compositor popular para fazer justiça e cantar a deselegância indiscreta das meninas do Rio. No inverno, é claro.
Talvez seja por isso que festas juninas não fazem muito sucesso por aqui. Tomar quentão em volta de uma fogueira não é a melhor coisa a se fazer à beira mar.
Tem gente aqui no Rio acreditando que inverno só existe nos documentários do Discovery Channel sobre as geleiras do Ártico. Ou nos primeiros capítulos de novelas da Globo gravados em países europeus. Ou nas colunas de Ana Cristina Reis, quando a jornalista vai passar férias no Hemisfério Norte, com a irmã, a Minhoca.
No Rio, o inverno sobe a serra. Vai para Petrópolis desde o tempo de D.Pedro. Ou para Teresópolis, mais procurada nos anos 60. Ou para Mauá, onde se escondeu parte da juventude perdida dos anos 70. Ou para
qualquer lugar em que a atração turística é um termômetro marcando temperatura abaixo de 17 graus e a grande atração do jantar é uma sopa de cebola fumegante. É na serra que nossos casacos de couro perdem o cheiro de mofo.
Mas, se você ficar por aqui, tem inverno também. É só prestar atenção. Quem não saiu de casa naquela quarta-feira de três anos atrás pode até continuar acreditando que não existe inverno no Rio. Bobeou,
dançou. E as luvas de couro continuarão mofando naquela gaveta esquecida do armário. Parece que o inverno deste ano começou no exato momento em que você deu início à leitura desta coluna. E agora, que chegamos ao fim, o inverno já acabou também. Fique esperto no ano que vem.
O Rio tem inverno, sim. Sempre teve. Eu me lembro muito bem de um que, três anos atrás, caiu numa quarta-feira. Foi na segunda quarta-feira de julho. Eu nunca mais me esqueci daquele inverno na quarta-feira porque foi o dia em que todos os cariocas tiraram as roupas de lã do guarda-roupa.
É esta a principal característica do inverno carioca: a total descombinação entre as peças de roupa da estação. Até a Rio Fashion Week já desistiu de criar moda para a época mais fria do ano. E investiu na moda que a cidade aparentemente entende: a de verão, a moda praia. Guarda-roupas do Rio não abrigam meias de lã, japonas ou chapéus de feltro. Ou, pelo menos, não abrigam estas peças todas juntas. Quem tem meia de lã não tem cachecol. Quem tem calça de veludo não tem camiseta térmica. O resultado é o improviso. A deselegância discreta das meninas de São Paulo já foi cantada em prosa e verso. Falta algum compositor popular para fazer justiça e cantar a deselegância indiscreta das meninas do Rio. No inverno, é claro.
Talvez seja por isso que festas juninas não fazem muito sucesso por aqui. Tomar quentão em volta de uma fogueira não é a melhor coisa a se fazer à beira mar.
Tem gente aqui no Rio acreditando que inverno só existe nos documentários do Discovery Channel sobre as geleiras do Ártico. Ou nos primeiros capítulos de novelas da Globo gravados em países europeus. Ou nas colunas de Ana Cristina Reis, quando a jornalista vai passar férias no Hemisfério Norte, com a irmã, a Minhoca.
No Rio, o inverno sobe a serra. Vai para Petrópolis desde o tempo de D.Pedro. Ou para Teresópolis, mais procurada nos anos 60. Ou para Mauá, onde se escondeu parte da juventude perdida dos anos 70. Ou para
qualquer lugar em que a atração turística é um termômetro marcando temperatura abaixo de 17 graus e a grande atração do jantar é uma sopa de cebola fumegante. É na serra que nossos casacos de couro perdem o cheiro de mofo.
Mas, se você ficar por aqui, tem inverno também. É só prestar atenção. Quem não saiu de casa naquela quarta-feira de três anos atrás pode até continuar acreditando que não existe inverno no Rio. Bobeou,
dançou. E as luvas de couro continuarão mofando naquela gaveta esquecida do armário. Parece que o inverno deste ano começou no exato momento em que você deu início à leitura desta coluna. E agora, que chegamos ao fim, o inverno já acabou também. Fique esperto no ano que vem.
Fonte: Artur Xexéo - Coluna da Revista o Globo
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