Artista expõe anotações de sua última obra, um filme ao vivo, na Gentil Carioca
Inventário. Detalhe de “3”, com desenhos e fotos feitos pela artista como referências para o filme “Cinema shadow”
RIO - Laura Lima olha muito tempo o corpo de um poema. Sabe o que é corpo e o que é poema. Foi assim com “Cinema shadow”, seu mais recente trabalho. O filme ao vivo de oito horas exibia num cinema de Londres o que uma câmera filmava num loft.
O corpo do poema, porém, ficou com ela em anotações, numa espécie de inventário do caminho que percorreu até o poema, ou “Cinema shadow”. É esse inventário, “Notas de rodapé de Cinema Shadow”, que A Gentil Carioca Lá, na Lagoa, abre hoje, às 19h.
Laura reúne os percursos de sua poética em três grandes paredes da galeria na Lagoa. Lá, delicados desenhos da artista dividem espaço com anotações (trechos de Samuel Beckett a Werner Herzog) e fotografias (dos olhos de Arthur Clarke, por exemplo), entre outras referências do filme criado pela artista em Londres.
— Apresento aqui as notas de um filme possível — explica Laura, que, em novembro, vai criar “Cinema Shadow” no Rio, na Fundação Eva Klabin. — Monto na galeria um cabinet, como se fosse uma biblioteca plana. São estruturas poéticas. Quando você abre um livro, se decidir ler só as notas de rodapé, verá um texto imaginário e caótico que sugere um outro texto. Aqui, esse texto final seria “Cinema shadow”.
De certa forma, as “notas de rodapé” de Laura se assemelham às obras dela que estão em museus como o MAM de São Paulo, a primeira instituição brasileira a adquirir uma performance (embora a própria artista não goste do termo). O museu tem em seu acervo instruções para, em 50 anos, por exemplo, executar a obra sem a presença da artista. Laura mantém, assim, sua relação com o hibridismo: mescla teatro, arte de ação e cinema, tanto no corpo do poema quanto no poema em si.
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