Em seu final, 'Avenida Brasil' aposta no perdão sem decepcionar
Os mais entusiasmados passaram a última semana apostando em finais criativos, envolvendo nomes insuspeitos em meio ao assassinato de Max, tramando um final mirabolante para Carminha e até mesmo construindo desfechos com brechas para uma 'continuação' de 'Avenida Brasil'. Mas ele, o pai de toda essa história que encantou o Brasil, não firmara compromisso algum com a ousadia narrativa. E assim se deu o último capítulo de seu folhetim.
Com um início lento e com um pé no freio mais pesado que o que marcou toda sua trajetória, 'Avenida Brasil' teve, em episódio derradeiro, a confirmação de todos os sinais que foi deixando pelo caminho, sendo moldado um melodrama recheado pela vingança, com personagens elaborados com perfeição, um elenco afinado e um roteiro, na medida do possível, ágil e sofisticado pelas mãos de João Emanuel Carneiro.
Sendo assim, ao assumir nuances tradicionais na teledramaturgia (conflitos, crises, reviravoltas, clímax), coube a 'Avenida Brasil' nos brindar com a redenção de sua maior vilã. Carminha, se inserida em uma novela comprometida com a 'inovação', talvez se mantivesse como baluarte da maldade até o fim, sem concessões. Mas, ao contrário do que muitos pensavam (ou gostariam que fosse a realidade), João Emanuel Carneiro tinha um compromisso com os clichês, sendo sua maior missão a reciclagem dos mesmos, transformando ganchos, situações e catarses em contextos de identificação com o público, mas sem subestimar sua inteligência. Nascendo assim uma trama popular, de alta carga dramática, sagaz e um tanto óbvia. Como um melodrama ideal deve ser.
Assim como Clint Eastwood fez em 'Menina de Ouro' ou Ang Lee, em 'O Segredo de Brokeback Mountain', João Emanuel foi em busca de uma renovação de lugares-comuns, armado com atores de primeira linha e a confiança de um texto engendrado por uma mente privilegiada. Resultado? Uma novela que, até nos momentos em que foi previsível, carregava em si a autoridade de poder 'ser' previsível. Ou mais: ter a obrigação de 'ser' previsível. Mas de um jeito especial, único: por exemplo, com uma Adriana Esteves 'monstra' em cena, recebendo um abraço de sua pior inimiga, em seu ápice da redenção. Anticlimático para alguns, mas coerente com toda a proposta da novela.
Poderia até ser aceitável esperar um final surpreendente para 'Avenida Brasil', mas não seria, no mínimo, justo com seu autor, que, durante seis meses, nos deu uma aula de conservadorismo narrativo, apegado à velha fórmula melodramática, mas com a capacidade de injetar vida nova a um gênero que parecia desgastado.
Quando dizemos que, com 'Avenida Brasil', algo mudou na história da teledramaturgia, muito mais estamos nos referindo a uma nova roupagem dada aos nossos folhetins do que a qualquer invencionice de roteiro que tenha sido criada por João Emanuel. Agora, depois de 'Avenida Brasil', nosso nível de exigência sobe. Não que queiramos experimentações na telinha do horário nobre. Queremos, a partir de agora, pelo menos, clichês de primeira grandeza, como os que nos foram concedidos por 'Avenida Brasil'.
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